Já
notou como tudo sempre esta em constante movimento? As vezes lento, as vezes
frenético, mas em movimento...
Outro
dia eu estava na aula e no meio das anotações rápidas (e um tanto malucas) nos
meus papéis de ofício me deparei escrevendo a citação: “O universo tende ao caos”. Na hora deixei passar, mas hoje tudo fez
sentido. Ou pelo menos, um sentido mais próximo da minha realidade não científica.
Fim
de tarde minha mãe chegou a casa com o cabelo cortado um pouco abaixo do ombro
e um sorriso tímido no rosto. Meu sorriso se abriu por completo. Ela me
perguntou como ficou, eu a abracei e disse “eu gostei, esta mais linda
ainda”. E ela estava.
Faz
3 anos que ela mantinha o cabelo longo até o fim das costas e 3 meses que a
demitiram do emprego. Ela não estava a muito tempo lá, não ganhava tão bem mas era o dinheiro que pagava metade das
contas de casa e o colégio da minha irmã mais nova. E para piorar, ontem meu
padrasto perdeu o emprego também.
Ninguém
estava muito feliz sabe? Como poderiam? Eles podiam rir do que minha irmãzinha
falava “Eu? Eu que não quero trabalhar
nesses empregos que demitem a gente” mas todos sabemos o quanto a segurança
de estar empregado faz falta.
Foi
um desmoronamento.
A
gente vai criando pequenos barracos, casas, casarões, mansões e castelos com
sonhos e planejamentos, se baseando no que temos hoje, e então, “puff” eles
podem desmoronar e só restar escombros.
Ficamos
perdidos. Certas coisas perdem sentido, caem muitas lágrimas, perdemos a noção
e o objetivo. Como se comungássemos com o universo e sua desordem.
Se
Clarice Lispector visse esses capítulos das nossas vidas, diria que estamos a
espera dos nossos “momentos epifânicos”. O cabelo cortado de minha mãe foi mais
do que estética, foi um convite a um recomeço.
Significava que ela estava reconstruindo a sua alma, passando merthiolate nas feridas, colocando bandeide sobre as cicatrizes, pegando os sonhos que sobreviveram e
colocando na bagagem, deixando os restos pra trás e se bobear passando corretivo
nas olheiras. Refletia o jeito dela de dizer pro mundo “oi estou pronta pra outra”.
Se
reconstruindo.
É
mãe... a cada dia que passa percebo o quanto aprendo com a senhora. Ah, como eu
quero um dia aprender a sorrir assim e dizer pro mundo “Vem com tudo que eu to pronta pra outra”.