quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Desmoronar e Reconstruir

Já notou como tudo sempre esta em constante movimento? As vezes lento, as vezes frenético, mas em movimento...

Outro dia eu estava na aula e no meio das anotações rápidas (e um tanto malucas) nos meus papéis de ofício me deparei escrevendo a citação: “O universo tende ao caos”. Na hora deixei passar, mas hoje tudo fez sentido. Ou pelo menos, um sentido mais próximo da minha realidade não científica.

Fim de tarde minha mãe chegou a casa com o cabelo cortado um pouco abaixo do ombro e um sorriso tímido no rosto. Meu sorriso se abriu por completo. Ela me perguntou como ficou, eu a abracei e disse “eu gostei, esta mais linda ainda”.  E ela estava.

Faz 3 anos que ela mantinha o cabelo longo até o fim das costas e 3 meses que a demitiram do emprego. Ela não estava a muito tempo lá, não ganhava tão bem  mas era o dinheiro que pagava metade das contas de casa e o colégio da minha irmã mais nova. E para piorar, ontem meu padrasto perdeu o emprego também.

Ninguém estava muito feliz sabe? Como poderiam? Eles podiam rir do que minha irmãzinha falava “Eu? Eu que não quero trabalhar nesses empregos que demitem a gente” mas todos sabemos o quanto a segurança de estar empregado faz falta.

Foi um desmoronamento.

A gente vai criando pequenos barracos, casas, casarões, mansões e castelos com sonhos e planejamentos, se baseando no que temos hoje, e então, “puff” eles podem desmoronar e só restar escombros.

Ficamos perdidos. Certas coisas perdem sentido, caem muitas lágrimas, perdemos a noção e o objetivo. Como se comungássemos com o universo e sua desordem.

Se Clarice Lispector visse esses capítulos das nossas vidas, diria que estamos a espera dos nossos “momentos epifânicos”. O cabelo cortado de minha mãe foi mais do que estética, foi um convite a um recomeço.

Significava que ela estava reconstruindo a sua alma, passando merthiolate nas feridas, colocando bandeide sobre as cicatrizes, pegando os sonhos que sobreviveram e colocando na bagagem, deixando os restos pra trás e se bobear passando corretivo nas olheiras. Refletia o jeito dela de dizer pro mundo “oi estou pronta pra outra”.

Se reconstruindo.

É mãe... a cada dia que passa percebo o quanto aprendo com a senhora. Ah, como eu quero um dia aprender a sorrir assim e dizer pro mundo “Vem com tudo que eu to pronta pra outra”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário